Café, o fim de um ciclo?
01-03-2010 19:33 Cafeicultores e pessoas interessadas na produção de café vem discutindo, na Sociedade Rural Brasileira o tema “Caminhos para o Café”. As discussões formais e informais levaram a conclusões surpreendentes. Estamos assistindo ao fim de um ciclo, durante o qual um único produto foi o principal em nossa pauta de exportações e financiou parte importante da industrialização do país. Em décadas recentes, o café foi perdendo sua importância relativa, graças à progressiva diversificação de nossa economia e à perda de competitividade do produtor brasileiro de café.
O Brasil ainda é o maior produtor de café do mundo e o maior exportador, mas mesmo numa fase de preços internacionais relativamente favoráveis, nosso produtor não tem obtido retorno adequado. Somos os produtores mais eficientes, temos uma estrutura de comercialização muito competitiva e com baixos custos e temos o segundo maior mercado consumidor.
Mas, ao mesmo tempo, o progressivo desenvolvimento de nossa economia leva ao encarecimento da mão de obra. O principal impacto na cafeicultura dessa mudança altamente benéfica para o país é a perda de competitividade do produtor tradicional em regiões de montanha, que tem uso intensivo da mão de obra.
Num negócio em que a mão de obra representa mais de 50% do custo da produção, um produtor que paga a um colhedor US$ 500 mensais não tem como competir com produtores da América Latina, da África e da Ásia, que buscam esse valor como renda anual.
Como todos os demais países produtores são menos desenvolvidos que o Brasil e não têm alternativas de diversificação da agricultura, o aumento de custos para o produtor brasileiro não se reflete num aumento de preços no mercado internacional.
DESAFIOS
Nossa cafeicultura passa hoje pelo mesmo desafio pelo qual passaram indústrias intensivas em mão de obra que, aos poucos, migraram de países ricos para o Terceiro Mundo. Além disso, durante esse mesmo período, a indústria do café passou por uma progressiva substituição do tipo arábica, de mais alto custo e com maior potencial de qualidade, pelo robusta, produzido em regiões de menor altitude, com menor custo. O produtor de robusta, que abastecia 25% do consumo mundial há 30 anos, hoje tem uma participação de 40% no mercado mundial de café. Nosso produtor tradicional se vê em situação similar à da indústria automobilística americana, que sempre esteve na vanguarda do negócio, mas agora vem sendo substituída por produtores mais competitivos.
Tudo isso levou a um recorrente endividamento de um grande número de cafeicultores, que não têm nenhuma perspectiva de gerar resultado na produção para abater a dívida, enquanto continuam contribuindo para uma oferta excedente do produto, o que pressiona contra eventuais ganhos de preço que recuperem a competitividade da cafeicultura.
No entendimento geral é preciso buscar uma regra de saída para esses produtores que lhes reduza a dívida com o compromisso de erradicação da parte ineficiente do parque produtivo. Isso levaria à redução da área e ao aumento da produtividade, com consequente redução das exportações, provocando um aumento das cotações internacionais sem impacto negativo na receita exterior.
Fonte: Diario de Caratinga
———
Voltar